28 de jan. de 2016

Igreja, de Cristo, Pentecostal, no Brasil


Por Wallace Góis

Nome é importante (eu bem sei, porque não raro alguém erra meu nome, tanto para escrever como para falar). Nome é identidade.

Hoje, 24 de janeiro, a ICPB completa 79 anos de fundação em nosso país. Desde muito criança sou parte desta igreja, mas, demorei um pouco a aprender o que significa a palavra pentecostal (porque pela minha experiência, era o único tipo de igreja evangélica que existia, logo não precisava pensar sobre seu nome ou suas características).

Igreja de Cristo Pentecostal no Brasil é um nome longo e já me perguntaram, maldosa ou criticamente, se Pentecostal é o Cristo ou a Igreja. Por isso prefiro falar sempre assim: "sou da Igreja de Cristo (respiro) Pentecostal", para deixar claro que pentecostal é a Igreja de Cristo, embora se possa argumentar que Cristo é sim, pentecostal, pois foi ele quem o prometeu que viria com o Pai para "fazer morada" entre os discípulos em Pentecostes (João 14).

A convivência com denominações e grupos religiosos diferentes do meu me fizeram pensar a minha própria religião. Na caminhada como ministro evangélico tenho tentado descobrir também qual é o meu lugar nela, tendo em vista todos os estereótipos estabelecidos sobre quem pertence a uma igreja pentecostal (tom e ritmo da fala, vocabulário, demonstrações de êxtase) até a própria forma de entender as escrituras e de viver a espiritualidade no cotidiano. Essa constante tensão me levou a, ao lado da vida comunitária e da experiência de fé, estudar o movimento pentecostal e a história da ICPB, em particular.

Quando o reverendo John Stroup (1853-1929), um presbítero-evangelista metodista dos Estados Unidos da América e pregador do movimento de santidade wesleyana teve a experiência pentecostal, em 1908, perdeu o direito de renovar as credenciais de ministro em sua igreja de origem. Sua experiência teve lugar quando participou de um culto na igreja independente "A Missão", em Findlay, Ohio, que quatro anos depois seria a primeira Assembleia de Deus do mundo. Stroup, porém, permanecia desligado oficialmente de uma denominação, justamente porque sua experiência espiritual lhe impedia a filiação na maior parte das denominações, numa época em que o pentecostalismo moderno, ainda nascente e tímido, era considerado "bruxaria", "possessão demoníaca" ou, na melhor das hipóteses, histeria coletiva. O movimento pentecostal, no entanto, estava para além de uma nova/velha expressão de culto com algumas variações doutrinárias: era uma resposta à segregação racial, desigualdade de gênero e à injustiça social que pairava sobre a sociedade norte-americana e mundial. Inclusão e igualdade eram palavras-chave. Debaixo da inspiração do Espírito Santo, qualquer pessoa estava apta a ser representante de seu reino e a experimentar seus dons.

Minha leitura é a de que Stroup sentia falta de uma Igreja (no sentido comum e simples da palavra), isto é, de um espaço para se reunir com outras pessoas e celebrar a comunhão e os dons espirituais que passara a acreditar. O objetivo de "congregar" sempre foi e sempre será o de recarregar as baterias para jornada do dia a dia, para cumprir a missão de Deus.

Pela leitura bíblica que fazia, Stroup também convenceu-se de que a nomenclatura mais exata a ser dada para uma "igreja verdadeira" é com a adição do nome de Cristo, por ele ser o Senhor da Igreja e o salvador da humanidade. Também concluiu que se havia uma forma acertada de cristianismo com base no Novo Testamento, esta deveria conservar a sempre atual experiência de pentecostes de Atos 2 e, por isso, registrou em 1917, no estado de Ohio, a denominação "Pentecostal Church of Christ" (Igreja de Cristo Pentecostal), fruto de reuniões de avivamento que já vinha realizando desde sua casa na atual cidade de Flatwoods, Kentucky.

Anos mais tarde, na Conferência de 1934, a Pentecostal Church of Christ aprovou o envio do casal de noivos Horace Ward e Eva Carolyn Hall. Em dezembro daquele ano, Ward partiu sozinho a bordo do navio Delsud, em busca de responder ao chamado que sentiu ter recebido de Deus: "Quero que vá ao Brasil por mim". Chegou ao Rio de Janeiro em janeiro de 1935, e tratou de fazer contatos com missionários pentecostais ou não que já atuavam no Brasil. Dentre eles obreiros das Assembleias de Deus e da Igreja de Cristo (não a ICPB). Seu trabalho no Rio durou pouco. O nordeste brasileiro seria o nascedouro da ICPB, a partir de 24 de janeiro de 1937, em Villa Bela (atual Serra Talhada), Pernambuco.

A "Igreja de Cristo Pentecostal de Serra Talhada" passaria a se chamar "Igreja de Cristo, Pentecostal do Brasil" (destaque para a vírgula inserida) em 1949, para indicar o caráter nacional que a igreja estava tomando, além de compreender sua expansão pelo país. Em 1964, José Pinto de Oliveira assume a liderança nacional, sendo o primeiro superintendente brasileiro. Isso tudo aconteceu em um ano de profundas mudanças no cenário político nacional! A partir dali, a Igreja brasileira se tornava, progressivamente, independente da sede norte-americana.

A liderança de José Pinto de Oliveira duraria até 1986, quando da sua morte. Tinha personalidade forte (às vezes difícil de lidar) e boa articulação dentro e fora da instituição. Como escritor de lições bíblicas, considero que sua maior contribuição foi a de defender a doutrina pentecostal e um forte senso de ética como resultado de uma espiritualidade saudável. Denunciou a "hediondez" da injustiça sócio-econômica e anunciou o padrão do Reino de Deus nos profetas menores como ideal a ser praticado. Na prática, encorajava ações sociais e apoiou candidatos que compunham a oposição ao governo na época da Ditadura Militar.

É dele a frase: "O culto, que representa a harmonia do crente com o seu Deus, necessariamente o leva à prática da justiça nas suas relações com o próximo." (Revista da Escola Dominical. Exigências do Deus que cultuamos, 1975)

Os missionários e missionárias norte-americanos relataram sua dificuldade em se adaptar ao Brasil daqueles tempos (décadas de 40 a 60). Porém, não deixavam de registrar suas boas experiências e de citar eventos importantes do Brasil, indicando a real preocupação de entender, a seu modo, como deveria ser a Igreja de Cristo, Pentecostal do Brasil.

Annie Frew, missionária, líder e educadora, representava as mulheres da igreja e serviu de exemplo para elas. Depois de encerrar sua participação no Brasil, ao qual amou até a morte, prosseguiu nos EUA como pastora auxiliar na igreja de Horace Ward Junior, conforme ele próprio noticiou num jornal da década de 60.

O estoniano Ernst Grimm, fugitivo da guerra na Alemanha, pregador de rádio, lançou as bases da educação teológica na denominação. Em seus escritos, enfatizava temas como o amor, serviço, Espírito Santo e a responsabilidade cristã no mundo.

Em 1978 a ICPB faz uma breve mudança em seu nome: deixa de ser Igreja de Cristo Pentecostal "do" Brasil e passa a ser "no" Brasil. Entendia assim ser parte de um corpo, um movimento, um projeto maior e que está para além de seus limites geográficos. Intuo que já pesava sobre seus ombros a necessidade de se autocompreender como Igreja, de Cristo e Pentecostal num país como o Brasil.

Com isso, amplio a reflexão, não somente no que diz respeito à ICPB mas a toda e qualquer igreja no Brasil. Jesus chamou seus discípulos para serem suas testemunhas. Serem sal da terra e luz do mundo. Em tempos difíceis como o nosso, de crises humanitárias e econômicas mundiais e nacionais, cenários políticos caóticos, decepção com as instituições religiosas, esfriamento do amor e da inclinação às coisas de Deus, desigualdades sociais aumentando (no mundo todo, 1% da população detém riqueza igual a de 99%. No Brasil a proporção é de 10% para 90%). Diante disso, o que Deus espera de nós? Que "identidade" e "nome" precisamos adotar? Como o evangelho que cremos pode ajudar nossa nação a continuar crescendo em todas as áreas, sem ser sal demais e nem de menos? Um Brasil "evangélico" seria solução ou ruína? Que a nossa oração seja como aquela ensinada por Jesus: venha o teu Reino de paz e justiça, Deus, sobre o nosso país!

2 comentários:

FRANCISCO disse...

SUAS CONSIDERAÇÕES SÃO INTERESSANTES, PRINCIPALMENTE NA QUESTÃO IGREJA PENTECOSTAL E CRISTO PENTECOSTAL. GOSTEI DO SEU (RESPIRO). REALMENTE UMA PAUSA (VIRGULA) FAZ MUITA DIFERENÇA.

PARABÉNS PELO COMENTÁRIO. FRANCISCO.

Wallace de Góis Silva disse...

Obrigado, Francisco! Continue nos acompanhando...