8 de mar. de 2015
Deus e os direitos das mulheres: uma reflexão sobre o dia 8 de março
Estava pensando numa passagem bíblica que expressasse o que significa o dia 8 de março. Lembrei do livro de Números (27.1-11), da história das filhas de Zelofeade, um dos descendentes de Jacó que não entrou na "terra prometida" após os anos de peregrinação dos hebreus - em fuga do Egito - pelo deserto. O que há nesse texto de especial?
Primeiro precisamos entender o contexto. A sociedade para qual o livro foi escrito já estava instituída como nação, e era regida por um sistema patriarcal, isto é, a figura do "pai", do homem, como líder era muito forte. A mulher, por sua vez, era colocada em posições subalternas, inferiores, quase insignificantes. Sua figura estava diretamente associada ao pecado, ao erro, à tentação. Como não podia ser diferente, havia uma lei que proibia as mulheres de se beneficiarem da herança de seus pais, a menos que estivessem sob o cuidado (entenda sob dependência) de um homem. Apenas filhos homens tinham esse direito. As filhas de Zelofeade, que morreu no deserto "por causa de seu próprio pecado", não tinha nenhum irmão, e portanto, estavam fadadas ao desamparo.
Zelofeade morreu porque, na lógica do livro de Números, os que duvidassem das orientações de Deus no deserto não entrariam na terra prometida, morreriam no deserto (cap. 14). Porém, uma espécie de maldição recaia sobre a descendência dos "rebeldes", como os filhos de Corá (caps. 16-17), e isso nos faz supor que na prática representava a perda de direitos. O mesmo não se aplicava ao caso de Zelofeade, que foi incrédulo. Mas, só porque eram mulheres, suas filhas não teriam acesso à herança.
Diante da negativa, elas tiveram duas opções: deixar as coisas como estavam, cedendo ao argumento de que "sempre foi assim e sempre será", ou... fazer o que elas fizeram. Foram até Moisés e exigiram seu direito, que não estava necessariamente previsto na lei, mas era legítimo.
Quem eram essas mulheres? Temos apenas seus nomes. Naqueles tempos, porém, os nomes diziam muito sobre as pessoas. A pastora e mestra luterana, Blanca Irma Rodriguez, nos apresenta os nomes e significados: "Macla, enfermidade ou doença; Noa, descanso, repouso; Hogla, lutadora; Milca, rainha, advogada; Tirza, agradável. Cada uma com suas qualidades ou adversidades, tiveram que enfrentar sua situação. Isto as tornou fortes, persistentes e valentes por meio da fé, na forma e maneira como atuaram."
O resultado é que Deus mandou mudar a lei, porque Deus é contra a injustiça! Ele falou a Moisés: "As filhas de Zelofeade têm razão. Você lhes dará propriedade como herança entre os parentes do pai delas, e lhes passará a herança do pai. Diga aos israelitas: Se um homem morrer e não deixar filho, transfiram a sua herança para a sua filha." (v. 7-8).
As mulheres não devem se deixar vencer pelas pressões em contrário. Foi assim que essas irmãs conquistaram seu direito. Os homens devem ser sensíveis à voz de Deus. Devem reconhecer o direito e respeitar as mulheres.
Oito de março é Dia Internacional da Mulher. Um dia para lembrar de como tem sido árdua a luta delas por obterem espaço, direitos, respeito. Para se ter uma ideia, em pleno ano 2015, as mulheres recebem salários quase 30% menores do que os homens que desempenham a mesma função. Ainda temos índices altíssimos de violência contra a mulher como o estupro, o assédio sexual e moral, a agressão doméstica, o feminicídio, o desrespeito às gestantes e aos direitos reprodutores da mulher. Essas violências são legitimadas por piadinhas do dia-a-dia, por leis frágeis, pela educação e comportamento machistas (em que o homem justifica seus próprios atos dizendo "não aguentei porque sou homem" ou por se achar superior).
Oito de março é pra lembrar que Deus criou a humanidade, como diz o Gênesis, "macho e fêmea os criou, à sua imagem e semelhança".
Oito de março é pra lembrar que Deus sempre sonhou com igualdade, respeito, cooperação e não a opressão nas relações humanas. Jesus sempre colocou as mulheres que o procuraram em lugar de dignidade, de respeito, de autoestima, mesmo que a convenção social pregasse o oposto.
Que a cada oito de março fique claro que Deus criou a humanidade para ser livre, e que nos ajude a confessar que nós (homens) estamos roubando o direito que o Criador deu às mulheres, em pequenas e grandes coisas.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário