Por Wallace de Góis Silva
Frida Vingren (1891-1940), missionária sueca e autora de 23
hinos da conhecida Harpa Cristã, hinário oficial de muitas igrejas
pentecostais, era casada com Gunnar Vigren, que junto com Daniel Berg, fundaram
a Missão da Fé Apostólica, no Brasil, hoje denominada Assembleia de Deus. Frida era mulher de destaque, corajosa e criativa. Além de compositora,
era pastora, poetisa e “ensinadora”, em tempos em que as mulheres tinham ainda
menos espaço no ministério do que hoje em dia. Enquanto seu esposo, líder da igreja, estava
doente (quase o tempo todo) e Berg, que não teve muito destaque nos anos
inicias, ia para o trabalho secular, Frida assumiu a liderança daquela que
viria a ser a maior denominação evangélica do país.
Entre os muitos homens que não gostavam que as mulheres
ocupassem lideranças, estava o proeminente missionário sueco, Samuel Niström.
Mas, Gunnar Vingren, que era seu amigo, se opôs a ele e decidiu apoiar o
ministério feminino, que era considerado tão válido quanto o masculino, desde que fosse selado pelo Espírito Santo.
Em meio às discussões sobre a validade ou não da atuação feminina na igreja, Frida escreveu um artigo para o jornal da denominação, onde disse as seguintes palavras:
Em meio às discussões sobre a validade ou não da atuação feminina na igreja, Frida escreveu um artigo para o jornal da denominação, onde disse as seguintes palavras:
“Despertemo-nos, para
atender o chamado do Rei, alistando-nos nas suas fileiras. As irmãs das
"assembleias de Deus", que igualmente, como os irmãos têm recebido o
Espírito Santo, e, portanto, possuem a mesma responsabilidade de levar a
mensagem aos pecadores (...), em todas as partes do mundo, e especialmente no
trabalho pentecostal, (...) tomam grande parte na evangelização. Na Suécia,
país pequeno com cerca de 7 milhões de habitantes, existe um grande número de
irmãs evangelistas, que saem por toda parte anunciando o Evangelho, entrando em
lugares novos e trabalhando exclusivamente no Evangelho. Dirigem cultos,
testificam e falam da palavra do Senhor onde há uma porta aberta.” (jornal
Mensageiro da Paz, fevereiro de 1931).
Frida Vingren defendeu a participação feminina, e a chancela
vem do Espírito Santo, que capacita para o ministério. O Espírito tem um papel
muito importante na fé e na prática pentecostal, pois é ele quem dá as
ferramentas necessárias ao ministério, através do batismo com Espírito Santo,
marcado por uma experiência de fé que pode se manifestar em sinais visíveis de emoção,
línguas desconhecidas, lágrimas, cânticos espontâneos, orações fervorosas, e às
vezes, em risos.
No texto bíblico de Atos 1.1-11 há uma continuação do final
do evangelho de Lucas. Esse capítulo relata a orientação que Jesus dá a seus
seguidores para permanecerem em Jerusalém ainda alguns dias para esperar pela
vinda histórica do Espírito Santo e serem batizados por ele. Na história dos
judeus, sempre foi muito forte a crença no “messias” (ou Cristo), aquele que
viria para restaurar a autonomia política, social e econômica dos descendentes
de Israel, e traria paz a todos os seus habitantes. Desde que viram em Jesus a
figura de um messias, entenderam que este tomaria o trono de Roma, o império
que ocupava quase todo o mundo conhecido da época, e daria o controle a Israel,
depois de ter provado que era o Filho de Deus vencendo a morte. Os discípulos de Jesus o questionaram, pois, já
estava para subir ao céu, e por isso estava se despedindo de seus discípulos.
Mas Jesus disse que eles não deveriam se importar com o tempo em que eventos
importantes como esse poderiam acontecer, mas sim com sua função de serem
testemunhas em Jerusalém (onde estavam), Judeia (região onde ficava Jerusalém),
Samaria (região vizinha) e até aos confins da terra, isto é, até ao último
lugar conhecido, pelo domínio de Roma. Acreditamos que dessa forma o império
romano seria confrontado por uma mensagem que fala do Reino de Deus, que traria
a paz de verdade, que não está baseada no medo e na ameaça que Roma usava para
manter a “pax”. Ela seria baseada no amor e na justiça. Ser uma testemunha de
Jesus queria dizer que deveriam ir por todos os lugares anunciando que o Reino
de Deus chegou, e Jesus Cristo, o filho de Deus, cumpriu sua missão para
mostrar à humanidade que o Pai amou o mundo.
Depois disso, Jesus desaparece entre as nuvens, e enquanto
os discípulos continuaram olhando para cima, o que pode significar que ainda não
tinham entendido a sua partida precipitada, esperavam que Jesus fizesse seu
papel de messias e desse a Israel a posição que julgavam ser de direito. Mas,
dois homens de branco, a quem muitos entendem ser anjos, os interpelam: “Por
que vocês estão aí olhando para o céu? Esse Jesus que estava com vocês e que
foi levado para o céu voltará do mesmo modo que vocês o viram subir. (v. 11).”
Em outras palavras, a atenção deles deveria ser na missão deles, aqui na terra,
porque a parte de Jesus ele faria, quando ele voltar. Para isso, os discípulos
receberiam o Espírito Santo, e que traria a eles a capacidade e a coragem de
serem testemunhas de Jesus.
Saindo dali, os discípulos foram para Jerusalém, e se
reuniram numa sala de oração (ou cenáculo) que ficava na parte de cima de uma
casa, onde “eles sempre se reuniam todos juntos para orar com as mulheres, a mãe de Jesus e os irmãos dele.” (v. 14). Foi nesse local que
escolheram o discípulo que iria substituir Judas, o traidor: Matias.
Nesse mesmo lugar, aconteceria um evento marcante que seria
descrito no capítulo seguinte de Atos. O grande acontecimento se dá 50 dias
após a páscoa, quando o Espírito Santo foi até o cenáculo, simbolicamente em
forma de vento e de fogo, e encheu a todas as pessoas que estavam no lugar.
Sem entrar nas longas discussões sobre os conceitos de trindade,
quando o Espírito vem, é como se trouxesse a essência de Cristo para a vida de
seus seguidores e seguidoras. Jesus mesmo disse que o Espírito seria outro
consolador, que no idioma bíblico original quer dizer “aquele que está ao lado”
dos discípulos, uma vez que precisava partir. Quem está cheia/o do Espírito
Santo reflete em seus atos e palavras aquilo que aprendeu com Jesus, e que pode
ser resumido em duas atitudes: amar a Deus acima de todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo.
Em um de seus hinos, composto durante um momento de decisão
muito importante de sua missão, Frida Vingren diz: “Se Cristo comigo vai, eu
irei; e não temerei, com gozo irei, comigo vai. É grato servir a Jesus, levar a
cruz. Se Cristo comigo vai, eu irei!”. Quando Jesus disse que estaria com seus
discípulos todos os dias (Mt 28.20), ele não mentiu. Por que ele vem, sempre
que o Espírito vem. E virá novamente para apregoar o Reino de Deus, devolvendo
a paz não somente aos israelenses, mas a toda a criação (Rm 8.22). Esse Reino
do qual Jesus falou é muito diferente do reino que o Estado de Israel vem
construindo hoje em dia, de maneira forçosa e egoísta. O Reino de Deus é de paz e justiça, onde
todas as nações, incluindo Israel, terão acesso a tudo que o amor de Deus tem
para oferecer. Enquanto isso não acontece em escala mundial e perfeita, todas
as discípulas e todos os discípulos de Jesus espalharão o amor de Deus aonde
quer que forem, tanto em atitudes, como em palavras.
Sermão pregado no domingo, 23/09/2012, na Assembleia de Deus em Santo André.
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