14 de nov. de 2011

É tempo de trabalhar na Vinha

Por Wallace de Góis Silva
Mateus 21.28-32

A primavera começou há alguns dias, e com ela se inicia o ciclo das flores. O tempo do frio começa a se esvair e já vemos os primeiros traços do calor que antecede o verão.
Na parábola dos dois filhos, Jesus fala de um pai que os convida a trabalhar em sua vinha e um deles diz que vai, mas não vai, e o outro, que a princípio se negou a atender o pai, acabou indo até a vinha.
Como moral da história, o Mestre aponta que as meretrizes e publicanos precederiam os fariseus no reino de Deus, uma vez que estes dizem ser portadores da mensagem divina e coparticipantes de seus planos, mas na verdade não o são.
O paradoxo se mostra no fato de que pessoas marginalizadas, que consideram a si mesmas inferiores e são rotuladas indignas pelos religiosos têm acesso ao Reino pois, mesmo que inicialmente rejeitem a mensagem do evangelho, mostram-se conscientes de suas limitações e pecados, e, portanto, arrependidos, rendem-se ao projeto de Deus.
A primavera é um período de muita importância para o cultivo das uvas, pois após a época de colheita que se dá no verão ou no outono, inicia-se o inverno, e especialmente no Oriente, os invernos são rigorosos, geralmente com neve e gelo. Nessa estação as videiras ficam “mortas”, perdendo todas as folhas e secando os galhos. No entanto, nesse estágio, elas adquirem substâncias que são fundamentais para sua futura produção de frutos.
Quando a estação fria termina, os primeiros raios do sol da esperança, de belos dias de primavera começam a aparecer. Nessa etapa da vinicultura, é necessário que os ramos sejam podados e “chorem” quando liberam uma seiva que indica que as parreiras ainda estão vivas e aptas para florir e frutificar novamente.
Durante a primavera as vides começam a florescer, e já perto do fim da primavera, apresentam os primeiros frutos. Estes vão amadurecendo e ficam prontos para serem colhidos entre o final do verão e o início do inverno.
Períodos de inverno são inevitáveis necessários e, mas a natureza já está nos anunciando a mudança de estação, e com ela é necessário podar e consequentemente, chorar, mas logo somos encantados pelas flores que começam a perfumar os campos. As flores são testemunhos de transformação, de cura de nossas almas e da restauração de nosso ânimo. Tudo fica mais alegre, agradável e repleto de esperança de que frutos virão em breve.
Estamos vivendo um período de preparação para a produção de frutos, e devemos tomar a atitude de podar e chorar nossos ramos secos, que são as velhas opiniões, os pecados e preconceitos, permitindo que tenhamos uma vida renovada, que exala o bom perfume de Cristo. Nossos atos devem cheirar bem, representando em si, ações do próprio Jesus.
Mesmo diante de uma evidente sequidão da árvore, Jó declarou que “há esperança para a árvore, pois mesmo cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos. Se envelhecer na terra a sua raiz, e no chão morrer o seu tronco, ao cheiro das águas brotará, e dará ramos como planta nova” (Jó 14.7-9). A vida sempre se renova na esperança! Ao cortar nossos ramos, estamos nos abrindo para a renovação de nossas vidas, para a vinda de novas flores e frutos. São sempre novas oportunidades de recomeçar, de mudar de atitude e de opinião. Mesmo quem se sente como um tronco seco, incapaz sequer de derramar uma lágrima (como as parreiras antes da poda e a árvore na poesia de Jó), ainda pode ter vida, porque ao primeiro raio de esperança da incansável primavera produzirá flores.
Trabalhar na vinha é trabalhar no Reino de Deus, que depende muito de nossas mãos para crescer. Que nesse processo, nossa religiosidade pré-formulada segundo os nossos padrões seja deixada de lado para não descobrirmos que dizemos “sim”, mas que no fundo, nosso coração persiste num “não”, pois de tanto querermos ter razão e sermos donos de nós mesmos, já não sabemos mais a que reino pertencemos. Nesse ponto, tal como os pecadores e as prostitutas, precisamos nos conscientizar de nossas fraquezas e desejos e atos maus, e da pretensa santidade, dos fariseus, para que tenhamos espaço na vinha. Nunca é tarde para entrar na vinha e servir ao dono dela, pois, na parábola dos trabalhadores, que vem logo em seguida e completa o sentido do tema na narrativa de Mateus, mesmo quem chega depois, tem seu espaço e acesso à mesma medida de graça, que em qualquer medida, excede a qualquer compreensão humana.
Soli Deo Glori. Somente a Deus a glória.


Sermão exposto por ocasião da chegada da primavera e pela apresentação de minha sobrinha recém nascida, Sofia de Oliveira Góis. (02/10/2011)

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