Por Wallace de Góis Silva
Atos 13.1-12The Blinding of Elymas (Sketch for the Sistine Chapel) (Pre-Restoration) |
No texto bíblico de Atos a cegueira aparece novamente como
um sinal interessante. Saulo, um judeu bastante instruído e conservador,
tornou-se perseguidor dos cristãos. Um dia ele ficou cego ao ter uma visão do
Senhor dizendo ser aquele a quem Saulo perseguia. Sua cegueira foi temporária,
mas longe de ser apenas uma debilidade na visão, era uma expressão da condição
de Paulo: ele estava totalmente cego pela sua religiosidade e pela incapacidade
de reconhecer Jesus como o salvador. Pelo menos até que ele passasse pelo que
passou.
Curado da cegueira através da imposição das mãos de Ananias
no capítulo 10 de Atos, ele passou a pregar pela região. No cap. 13, foi enviado juntamente com Barnabé a Chipre. Chegando a
Salamina, uma importante cidade de Chipre, pregava nas sinagogas, e ao
atravessar a ilha e chegar na capital Pafos, encontrou o mago ou sábio judeu
Barjesus ("filho da salvação” ou “filho de Jesus) ou Elimas, que quer
dizer mago. Este homem, com suas palavras, tentava dissuadir o procônsul romano
(governador da província) Sérgio Paulo da fé cristã.
As autoridades romanas gostavam de chamar representantes dos
judeus para estarem ao seu lado prestando uma espécie de consultoria para
assuntos religiosos ou outros temas relacionados ao povo judeu, que era relativamente
numeroso em Chipre. Geralmente os magos judeus ocupavam cargos de confiança. Se
Barjesus era um mago, como sinônimo de feiticeiro ou adivinhador, estava em
rebeldia contra a Torá, misturando seus conhecimentos sagrados com superstições
idólatras e, portanto, na lógica judaica, passível de maldição.
Se por outro lado o termo "mago" se referir apenas
à sua posição de sábio religioso, (pois era comum na época associar a sabedoria ao conhecimento da astrologia e das artes mágicas), o
fato de ser conhecedor das Escrituras deveria leva-lo a enxergar o caminho de
Jesus. Mas isso não aconteceu. Parece-nos que ele era uma mistura dos dois. Dessa forma, percebemos que
a visão dele já estava comprometida mesmo antes de a névoa mencionada no texto
lhe sobrevir e tirar-lhe a visão.
Saulo, um judeu convertido que já esteve cego, agora se
depara com outro judeu importante, que era talvez igualmente sábio, mas tão
cego quanto Paulo foi. Barjesus era tão incapaz de enxergar o projeto de Deus,
que não era digno nem de ser chamado de filho da salvação, e sim de Elimas, o
falso profeta.
O apóstolo, o ex-cego Saulo/Paulo, olhou nos olhos do mago e
sentenciou: "Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a
malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os retos caminhos
do Senhor? Pois, agora, eis aí está sobre ti a mão do Senhor, e ficarás cego,
não vendo o sol por algum tempo. No mesmo instante, caiu sobre ele névoa e
escuridade, e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão." (v. 10
e 11). Em outras palavras, Barjesus ficou sem saber o que fazer, porque sua
cegueira estava exposta e evidente.
O governador viu literalmente que Paulo era capaz de olhar nos olhos
e dizer a verdade, e se maravilhou e creu na
doutrina do Senhor. O olhar de Paulo
revelava mais que uma opinião, refletia o encontro que teve pouco antes com o Senhor
Jesus ressuscitado. Em contrapartida, o cego Barjesus ficou ainda mais cego.
Em tempos como os nossos em que sábios-cegos, como os
pretensos representantes do evangelho no governo e na mídia, e os magos-aproveitadores
que oferecem milagres a granel, tentam desvirtuar a fé do povo e não agem com
justiça, precisamos como Paulo fez, olhar nos olhos deles e dizer que eles
devem corrigir sua postura e se deixar curar de sua cegueira, como a de filhos
do diabo! Paulo não condenou o fato de Barjesus ser judeu ou não, mas alertou
para o fato de estar induzindo um ser humano ao erro, e principalmente, por se
tratar de alguém que teria potencial de exercer a justiça em meio a um império
cruel e ganancioso como Roma, para o bm de seu próprio povo.
Não adianta a igreja ter poder e reconhecimento se suas
palavras não tiverem credibilidade, não estiverem baseadas na sabedoria do
Reino de Deus. Conversão de verdade começa quando as escamas de nossos olhos
caem e somos capazes de olhar nos olhos de outras pessoas, firme e ternamente,
como aquele olhar que Jesus desferiu a Pedro quando foi preso, ou quando olhou nos
olhos da mulher pega em flagrante adultério e a perdoou. Um olhar que confronta
os pecadores e alivia os oprimidos é uma verdadeira expressão de cristianismo e
um testemunho verdadeiro. Quando houver um "cego" em nosso caminho, é um sinal
que Deus quer manifestar sua glória através de nós, mostrando a salvação e um caminho de justiça. Estamos cercados de mestres
cegos pela própria vaidade e aspereza de coração que estão levando o povo
simples à intolerância e se aproveitando de sua ingenuidade para defender
projetos pessoais. Se não quiserem abrir os olhos, que fiquem cegos de uma vez, mas que sejam desmascarados. Quando for época de
eleição, olhe bem em quem vai votar. Depois dela, não tire os olhos de seu representante
que foi escolhido para trabalhar por todos.
Nossos olhos também precisam se voltar para as crianças e demais vítimas da violência, da fome, dos racismos, sexismos e toda
sorte de explorações, sejam elas explícitas ou veladas. Não descuide da maldade para que nunca deixe de ser denunciada. O pecado do egoísmo se manifesta em forma dessas coisas.
Não faça como
Barjesus e sim como Paulo: abra os olhos. Os seus e os de quem estiver por perto!
Sermão pregado na ICPB Jardim Palermo, SBCampo, 14.04.2013
Um comentário:
Bela mensagem e que Deus continue te usando sempre.
Postar um comentário